/** ong.gestao: 12.0 **/
** Topico: I/Genero e Desenv. Institucional em ONGs **
** Escrito em 6:25 AM Dec 23, 1996 por omar em ax:ong.gestao ** *Genero e Desenvolvimento Institucional em ONGs* e' uma publicacao lancada em 1995 pelo Nucleo de Estudos Mulher e Politicas Publicas do IBAM e pelo Instituto de la Mujer. Trata-se de uma coletanea de artigos de varios autores, resultado de um projeto de capacitacao para liderancas de ONGs de mulheres desenvolvido pelo IBAM, com apoio do Instituto de la Mujer do governo espanhol. A publicacao tem por objetivo incorporar a discussao da perspectiva de genero 'a teoria organizacional. O conjunto de artigos oferece uma boa visao historica da problematica da mulher desde os anos 60 e sua repercussao sobre aspectos institucionais das organizacoes das mulheres, assim com da teoria organizacional, apresentando os varios enfoques e politicas desenvolvidas ao longo do tempo. Os assuntos abordados sao validos e atuais nao apenas para as organizacoes de mulheres, mas para toda e qualquer ONG. Sao artigos curtos, com uma linguagem fluida, uma leitura oportuna para aquelas/es que desejam se iniciar na discussao sobre genero e organizacao institucional. [O quarto artigo, sobre a "comercializacao" dos servicos das ONGs e' particularmente importante no contexto atual.]* IBAM - INSTITUTO BRASILEIRO DE ADMINISTRACAO MUNICIPAL Nucleo de Estudos Mulher e Politicas Publicas Largo do IBAM, 1 - Botafogo 22.282 - Rio de Janeiro - RJ Tel: 021 - 537 7595 Fax: 021 - 537 1262 ** Fim do texto de ax:ong.gestao ** /** ong.gestao: 12.1 **/ ** Escrito em 6:28 AM Dec 23, 1996 por omar em ax:ong.gestao ** A expressao "genero", que pretende diferenciar a dimensao social da dimensao biologica que a palavra "sexo" carrega em si, e' abordada, 'a guisa de introducao, em artigo de Maria Luiza Heilborn. A autora resgata as pesquisas que originaram esse novo entendimento, as quais evoluiram de analises que falavam de "papeis sexuais" de homens e mulheres para se falar em "construcao social do genero". Essa nova abordagem pretende destacar a influencia preponderante da cultura sobre a formacao da personalidade e dos papeis exercidos socialmente por homens e mulheres. Experiencias diferenciadas vivenciadas desde a infancia, como aquelas relacionado ao tempo disponivel e ao espaco, levam a diferentes conformacoes sociais. Uma pesquisa com criancas de ambos os sexos de familias de baixa renda demonstrou, por exemplo, que criancas do sexo masculino dispoe de mais tempo para brincar e que as criancas do sexo feminino vao assumindo desde cedo tarefas domesticas. Da mesma forma, vai se diferenciando o espaco em cada cada qual e permitido transitar (na rua ou no espaco domestico). Com isso, a autora conclui que, considerando-se a perspectiva de genero, a formulacao e o planejamento de politicas deve considerar a variedade das experiencias sociais de homens e mulheres. Nesse contexto, a autora diferencia politicas que consideram as necessidades praticas de genero - como aquelas destinadas `a melhoria da situacao da mulher em suas atuais atribuicoes, o que, na realidade, beneficiaria a todos - e aquelas politicas que consideram as chamadas "necessidades estrategicas de genero", voltadas para reverter a situacao da distribuicao desigual de papeis entre homens e mulheres. ** Fim do texto de ax:ong.gestao ** /** ong.gestao: 12.2 **/ ** Escrito em 6:29 AM Dec 23, 1996 por omar em ax:ong.gestao ** O segundo artigo, de autoria de Maria Luiza Heilborn e Angela Arruda, esboca um panorama historico do movimento de mulheres. O artigo aborda o surgimento do movimento feminista mundial na decada de 60 dentro do cenario de contestacao da ordem social vigente, ao lado de outros movimentos de protesto como o movimento hippie, o movimento pacifista, as lutas pelo reconhecimento dos direitos das minorias, a rejeicao pelas instituicoes, etc. Os movimentos de mulheres surgidos no Brasil e' ai' contextualizado. As autoras destacam como particularidade do surgimento do movimento de mulheres no Brasil as lutas em torno de questoes relacionadas a valores associados 'a maternidade e ao papel da mulher na sociedade. Assim, surgiram, na decada de 60, o Movimento de Mulheres pela Anistia, que cobrava do regime o paradeiro de seus familiares. Na decada de 70 esta tendencia permanece com o Movimento Contra a Carestia e o movimento de luta por creches. Estas lutas abriram as portas do movimento sindical para a massiva sindicalizacao de mulheres e fizeram com que surgissem varios grupos de tendencia feminista no pais. Nesse contexto surgem duas denominacoes para a acao das mulheres pela ampliacao da cidadania: "movimento de mulheres" que nao explicita a ideia de que ha' uma hierarquia sexual e nao questiona a divisao sexual do trabalho, enquanto que o "movimento feminista" compromete-se com uma critica radical aos papeis de genero como produto da estrutura social. Com o esgotamento dos movimentos sociais e a institucionalizacao das ONGs, a causa feminista tambem se profissionaliza. Nas instituicoes se instala, desta forma, uma "cultura do feminismo", que estaria comprometida com a igualdade e a liberdade, dois valores que constituem os pilares da critica feminista. Com isso, a discussao em torno da organizacao do movimento se da' em torno de questoes como representacao, participacao direta e paritaria, nao monopolio da palavra ou da informacao, na rotatividade de eventuais funcoes, nao especializacao de funcoes e nao delegacao de poderes. "Em suma, prega-se uma horizontalismo na organizacao como perfeita encarnacao dos principios organizativos da democracia radical."(pag.20) Essa concepcao, no entanto, teria levado, na pratica, a um perfil institucional pautado por uma pratica espontaneista, avessa 'a programacao e 'a hierarquia, 'a direcao e ao controle, ao mesmo tempo em que, nas metodologias de trabalho, passou-se a se valorizar a emocao e a sensibilidade. De acordo com as autoras, uma das dificuldades nas organizacoes feministas e' justamente implantar nas suas estruturas organizacionais um ideario que e' apenas um conjunto de principios do pensamento feminista, com algumas aplicacoes nao sistematizadas. Assim, surgem tensoes relacionadas 'a tomada de decisao e ao exercicio do poder, assim como aquelas relacionadas ao perfil das funcionarias das ONGs feministas o qual, no contexto de exigencia de uma maior profissionalizacao, aparece em contradicao com a questao da militancia. Outro problema que surge e' o ativismo, levando 'a dispersao de forcas, 'a perda da visao dos limites e possibilidades, "como se o anti-hierarquismo feminista se transpusesse para a organizacao das tarefas" (pag. 24). A aplicacao do principio da democracia radical - atraves do horizontalismo, teria gerado, por sua vez, o democratismo, levando 'a perca de agilidade. Paradoxalmente, este levou 'a afirmacao de liderancas carismaticas, detentoras dos valores, identidade e experiencias, favorecendo a centralizacao, justamente aquilo que se desejou combater. Para as autoras, embora esses problemas sejam caracteristicos para o conjunto das ONGs, nas ONGs feministas, eles adquirem um significado maior. O ativismo, por exemplo, significa para o mundo das ONGs feministas, a ruptura com o universo domestico e a entrada na esfera publica, onde as mulheres vao se firmar, ao mesmo tempo, como militantes e como profissionais. As autoras do texto concluem que e' necessario se repensar a logica da democracia radical, considerando-se as novas exigencias de profissionalizacao, atraves da modernizacao do funcionamento, sem que se perca, no entanto, a visao participativa, democratica e criativa. ** Fim do texto de ax:ong.gestao ** /** ong.gestao: 12.3 **/ ** Escrito em 6:30 AM Dec 23, 1996 por omar em ax:ong.gestao ** O terceiro texto, de autoria de Menchu Ajamil, trata da questao de genero no contexto da cooperacao internacional. A autora traca a trajetoria das questoes relacionadas 'a mulher no ambito das politicas das Nacoes Unidas. E' abordado desde os programas de controle da natalidade, quando a pobreza era tida como consequencia direta da fecundidade, 'as teses que demonstraram, mais tarde, a relacao dos niveis educacionais e a participacao economica da mulher com a fecundidade, apontando para a necessidade de inserir a mulher nas estrategias de desenvolvimento. Assim, o texto oferece uma retrospectiva dos momentos mais relevantes da politica da ONU que colocaram a tematica da mulher em evidencia no cenario da cooperacao internacional, assim como os diferentes enfoques conceituais que embasaram as politicas ao longo do tempo. O "enfoque do bem-estar", um dos mais antigos, esta' voltado para a definicao de estrategias direcionadas aos assim chamados "grupos vulneraveis". As acoes estao voltadas para mulheres de baixa renda, privilegiando-se suas funcoes reprodutivas na qualidade de esposas e maes. O resultado pratico desta politica foi, de um lado, o incremento da capacidade produtiva da forca de trabalho masculina e, de outro lado, a promocao do bem-estar social dos grupos socialmente vulneraveis (portadores de deficiencias, doentes e criancas) atraves de programas voltados para a mulher. De acordo com a autora, este enfoque se apoia em premissas de que as mulheres sao receptoras passivas do desenvolvimento e que o papel de educar e socializar os filhos e' sua funcao. Da mesma forma, ele deixa ambigua quem, na realidade, seriam os verdadeiros beneficiarios dos programas - se as mulheres ou a familia e a comunidade. O "enfoque da equidade" parte do principio de que os modelos de desenvolvimento economico tem tido um impacto negativo sobre as mulheres no momento em que elas nao tem sido integradas nos setores produtivos, tendo ficado marginalizadas nos setores de subsistencia e setores informais da economia. Este enfoque incorporou o debate sobre a igualdade de oportunidades entre homens e mulheres no setor produtivo, dando enfase 'a independencia economica das mulheres como sinonimo de igualdade. Com isso, deveriam ser definidas politicas diferenciadas de modo a conceder 'as mulheres vantagens competitivas que as possibilitem reduzir as desvantagens em relacao aos homens por estarem muito tempo longe do mercado de trabalho. O "enfoque da anti-pobreza" defende que a desigualdade entre homens e mulheres nao esta' ligada na subordinacao das mulheres aos homens, mas 'a pobreza. Ele parte do principio de que, quanto maior a situacao de pobreza, mas as mulheres sao exigidas em seu papel reprodutivo nas familias de baixa renda. Assim, da reducao da desigualdade entre homens e mulheres, a enfase passa a ser o aumento da renda das mulheres. As acoes procuram, entao, incrementar as opcoes de emprego e renda e acesso aos meios de producao atraves de projetos de geracao de renda. O resultado pratico desta politica foi a proliferacao de projetos de geracao de renda para as mulheres, "os quais foram, na maioria, concebidos de maneira domestica. O fato de ter-se diferenciado em projetos de "micro-empresas" para os homens e "projetos de geracao de renda" para as mulheres, foi indicativo do carater secundario outorgado ao trabalho produtivo das mulheres"(pag. 32/33). O "enfoque da eficiencia" e' aquele, segundo a autora, que tem tido mais popularidade atualmente por parte das agencias internacionais de cooperacao. Ele defende a tese de que a participacao economica da mulher resulta na uniao da eficiencia e da igualdade na distribuicao de rendas. Para a autora, esse enfoque nao significa necessariamente uma melhoria nas condicoes de vida e trabalho para as mulheres. Por coincidir com um momento de ajuste estrutural da economia mundial, este enfoque tem, na pratica, deslocado os custos da economia remunerada para a economia nao-remunerada, na medida que privilegia a mulher na producao de bens e servicos comunitarios. O "enfoque da aquisicao e geracao de poder" procura, por sua vez, o fortalecimento da mulher nao necessariamente pelo vies economico. Ele busca aumentar a auto-confianca da mulher e contribuir para o desenvolvimento de habilidades que lhes permitam o controle sobre os recursos materiais e imateriais. Os diferentes enfoques levam a estrategias e formas de abordagem e intervencao diferenciadas e a resultados igualmente diverso. Os enfoques da "anti-pobreza" e da "eficiencia", embora com enfases diferentes, procuram dar respostas 'as assim chamadas "necessidades praticas de genero", sem, no entanto, darem respostas 'as "necessidades estrategicas", ou seja, aquelas necessarias para gerar mudancas na relacao de subordinacao. Por outro lado, a estrategia de "aquisicao e geracao de poder" lanca aos ombros das mulheres e suas organizacoes as responsabilidades sobre as mudancas sociais, subvalorizando o papel do Estado e das instituicoes na promocao das desejadas mudancas. Mais recentemente, a concepcao de genero contribuiu para a superacao da visao sobre os diferentes papeis que homens e mulheres desempenham na sociedade para examinar a relacao entre eles. Essa concepcao sugere que as estrategias de intervencao da perspectiva de genero. Nao devem se limitar 'as mulheres ou 'as causas da subordinacao, olhando-as tao-somente do ponto de vista das mulheres. ** Fim do texto de ax:ong.gestao ** /** ong.gestao: 12.4 **/ ** Escrito em 6:30 AM Dec 23, 1996 por omar em ax:ong.gestao ** O quarto texto, de Paulo Roberto Motta, aborda aspectos relacionados 'as estrategias gerenciais de organizacoes nao- governamentais sem fins lucrativos e a necessidade de sua adequacao quando se deseja garantir a sustentacao financeira por meios comerciais. O autor aborda a crescente necessidade das ONGs se preocuparem com o fator comercial, nao como uma politica revisionista de sua missao, mas como uma politica de autopreservacao, para a sobrevivencia da entidade. Nesse contexto, o autor aponta algumas contradicoes entre a missao social e a necessidade de sobrevivencia atraves de mecanismos comerciais. Ate' entao, a existencia da organizacao era justificada apenas pela relevancia de seus objetivos sociais. No novo modelo, quando o aspecto comercial determina a forma de sobrevivencia, a rentabilidade financeira passa a ser uma das medidas que determinam a relevancia. Um outro aspecto se refere ao estimulo do crescimento, que, ao se basear, na perspectiva anterior, na consecucao dos objetivos sociais, levava ate' 'a expansao do trabalho. Da nova perspectiva, o que vale e' a moderacao do crescimento ou ate' mesmo reducao dos objetivos sociais em funcao dos recursos financeiros disponiveis. Antes, caracterizava a acao da entidade a recusa a pressoes externas que viessem a desvirtuar seus objetivos e sua missao. Hoje se verifica uma certa predisposicao em aceitar pressoes externas e ate' mesmo desvirtuamento da missao institucional. Se na postura anterior se buscava estimular o espirito altruista para gerar dedicacao ao projeto, hoje se busca introduzir mecanismos de organizacao interna com regras e normas de funcionamento. Por fim, as ONGs possuiam a capacidade de atrair e manter pessoal sem grandes compensacoes financeiras. Quando incorporam objetivos comerciais, elas perdem esta capacidade e tem que repensar seus mecanismos de compensacoes. As ONGs tenderiam a buscar no passado, os criterios para definir a sua acao, uma vez que, sendo conhecidos e experimentados, transmitiriam mais sentimentos de seguranca e estabilidade. Assim, ainda de acordo com o autor, o tratamento gerencial do planejamento por parte das ONGs tende, dessa forma, a enfatizar aspectos que reduzem a eficacia de sua acao. Estes aspectos seriam: reconciliacao com o passado, buscando manter a lealdade de seus membros e a agregacao interna baseada na lealdade 'a missao e aos programas que lhes deram origem; reacoes a crises e pressoes externas, ja' que a analise sistematizada e continua para detectar oportunidades e ameacas e' praticamente inexistente; um planejamento baseado quase que exclusivamente na experiencia, crenca, habitos e informacoes dos dirigentes, uma vez que inexiste uma sistematizacao e continuidade de um planejamento baseado na geracao de informacoes validas e utilizaveis no processo decisorio. Por outro lado, a necessidade de gerenciar a escassez traz problemas gerenciais internos ja' que, em epocas de cortes orcamentarios, facilmente e' gerada uma imagem de irracionalidade, declinio, incapacidade e ineficiencia, dificultando a manutencao de uma imagem organizacional positiva. Isso faz com que seja necessario a mudanca da estrategia gerencial que parte do principio da expansao e do desenvolvimento, para incorporar a perspectiva de declinio e escassez. Justificar o declinio e', no entanto, uma tarefa dificil, uma vez que cortes de recursos demonstram a reducao da importancia da acao organizacional, dificil de ser aceito interna e externamente. Da mesma forma, torna-se tarefa ardua manter a motivacao do pessoal, pois se reduzem as oportunidades de criatividade, os recursos para promocao e recompensa pela lealdade e competencia, assim como aqueles para atrair e manter novos talentos. Por fim, o autor afirma que, se em epocas de abundancia a experiencia e a intuicao sao suficientes para a tomada de decisoes, ja' que possiveis erros sao facilmente absorvidos sem ameacar a sobrevivencia, em tempos de escassez e' necessario maiores conhecimentos e instrumentos analiticos para que o risco de erros possa ser minimizado. A atuacao numa perspectiva mais comercial exige de organizacoes sem fins lucrativos, de acordo com o autor, a implantacao de grandes mudancas, ja' que estas estariam desaparelhadas para desenvolver atividades que podem ou devem ser gerenciadas comercialmente. Alem das dificuldades gerenciais para atualizar normas administrativas, essa nova perspectiva gera conflitos de valores e objetivos. Dessa forma, o autor elenca uma serie de valores e praticas que devem ser reduzidas e outras tantas que devem ser acentuadas em ONGs sem fins lucrativos que passam a atuar numa perspectiva comercial, valores estes que, em muitos aspectos, contraditorios ao sentido social do trabalho, enquanto outros, podendo encerrar possibilidades de convergencia ou identidade. ** Fim do texto de ax:ong.gestao ** /** ong.gestao: 12.5 **/ ** Escrito em 6:32 AM Dec 23, 1996 por omar em ax:ong.gestao ** O quinto artigo, de autoria de Delaine Martins Costa, pretende contribuir com a discussao sobre o papel das mulheres que romperam o lugar que lhes foi atribuido socialmente, impedindo- lhes o acesso ao poder formal. Assim, o artigo aborda a incorporacao das mulheres em cargos de direcao e suas implicacoes para o gerenciamento institucional. A questao que a autora inicialmente coloca e' se existe ou nao um "estilo feminino" de lideranca e gestao, considerando-se as diferencas experiencias sociais vivenciadas por homens e mulheres. Sao abordados os estudos ate' agora realizados na area da teoria organizacional, mais especificamente aqueles que tratam dos estilos de lideranca e gestao. Estes observam muito mais a categoria "mulheres" e sua posicao de lideres em empresas privadas do que a categoria "genero". As novas tendencias da ciencia da administracao, que pregam o desenvolvimento de estruturas horizontais, com a valorizacao do trabalho em equipe, com a descentralizacao da tomada de decisoes, com a distribuicao de responsabilidades e rapidez no fluxo de informacoes coincidiriam com caracteristicas da personalidade e habilidades adquiridas pelas mulheres no seu processo de socializacao. De acordo com a autora, a literatura sobre o tema fala de "direcao androgina" para significar a combinacao ideal de tracos da personalidade de ambos os generos. Os estudos que pesquisaram a ascensao das mulheres em postos de direcao teriam mostrado diferencas na percepcao de homens e mulheres sobre a dificuldades destas ultimas nao ascenderem profissionalmente. Enquanto as mulheres atribuem 'as oportunidades no ambito do trabalho (formacao insuficiente, iniciacao no mercado de trabalho em postos que dificilmente levam 'a ascensao, inviabilidade de seu trabalho) as dificuldades em ascenderem, os homens atribuem a nao ascensao das mulheres a fatores familiares e de personalidade (nao se atrevem a arriscar-se ou nao desejam, realmente, promocoes). Um outro estudo indica diferentes formas de homens e mulheres encararem o trabalho: enquanto que os homens investem na carreira, as mulheres estariam mais preocupadas em exercer alguma atividade interessante. E quando alcancam postos de direcao, as mulheres negam ter chegado a eles de forma consciente, atribuindo seu exito muito mais ao fator sorte. Da mesma forma, homens e mulheres teriam atitudes diferentes frente ao poder. Enquanto que, para os primeiros, o poder e' percebido como dominio e controle, para as mulheres o poder significaria a capacidade de produzir e promover mudancas. Esse seria o motivo pelo qual as mulheres preferem o poder indireto, uma vez que percebem o poder direto como limitador. Outras autoras explicam as diferencas de percepcao de homens e mulheres com o fato de que os homens desejam estar no centro, no topo, enquanto que as mulheres, por sua vez, percebe o poder em forma de rede. Outros estudos sobre mulheres executivas apontam que as mulheres, na area governamental, tem conseguido ascender a altos postos administrativos, principalmente em organizacoes recem-criadas, mas nao conseguem alcancar os postos mais altos. A partir destes estudos, a autora se pergunta que mecanismos da estrutura organizacional - normas, padroes, criterios - impedem 'as mulheres ultrapassarem uma determinada barreira e galgarem aos postos mais altos. Ela levanta tambem a questao sobre que papeis homens e mulheres exercem no processo de producao de subjetividades dentro das organizacoes que contribuem para a afirmacao das relacoes instituidas. A autora aponta tambem para aqueles estudos que analisam as caracteristicas de organizacoes que desenvolvem mecanismos que propiciam a ascensao da mulher, tais como oferecer beneficios familiares, manter uma ambiencia favoravel e facilitar o desenvolvimento profissional. A flexibilizacao da jornada de trabalho e' apontada como outro fator que facilitaria a ascensao das mulheres dentro das organizacoes. As praticas atuais de gestao tambem valorizariam atributos tradicionalmente considerados femininos, uma vez que exige-se habilidades tais como organizacao, capacidade de gerenciar conflitos de forma equilibrada, guiar, dirigir, monitorar, manejar os conflitos e repartir as informacoes. Reformas da lei, para que todas as empresas, a partir de um determinado porte, incorporem mulheres nos varios niveis salariais de acordo com sua representacao na forca de trabalho, tambem contribuiriam para um equilibrio maior entre os generos. ** Fim do texto de ax:ong.gestao ** /** ong.gestao: 12.6 **/ ** Escrito em 6:33 AM Dec 23, 1996 por omar em ax:ong.gestao ** O sexto artigo, de Delaine Martins Costa e Gleisi Heisler Neves, trata da aplicabilidade da teoria organizacional, 'as ONGs, principalmente 'as ONGs feministas. A teoria organizacional classica tem como objetivo alcancar o maximo de produtividade e eficiencia em organizacoes cada vez mais complexas, numerosas e competitivas, visando o aumento da rentabilidade do capital investido. As ONGs, em contraposicao, nao buscam o lucro, nao admitem a apropriacao privada de seu patrimonio, sao socialmente comprometidas e "contestam os modelos e conceitos convencionais de poder nas organizacoes e na sociedade, bem como suas formas de legitimacao e exercicio" (pag. 62). As autoras abordam o desenvolvimento da teoria organizacional desde o seu surgimento, dentro de uma visao positivista. Esta seria determinada pela "racionalidade funcional" ou "instrumental", que se baseia na relacao mecanica entre meios e fins, estando em contraposicao 'a "racionalidade substantitva", que se apoia na estrutura etico-normativa. Assim, a racionalidade instrumental leva a que as pessoas se amoldem ao projeto organizacional estabelecido e induz ao corporativismo e 'a obediencia. O segundo modelo, o da racionalidade substantiva - induz 'a criatividade, 'a inovacao, uma vez que todos aqueles envolvidos no processo sao encorajados a refletir sobre suas acoes. De acordo com as autoras, embora de forma sutil, a racionalidade instrumental ainda se faz presente nas politicas e praticas das organizacoes. A titulo de exemplo, cita a participacao, aplicada como mero instrumento para reduzir a resistencia a mudancas dentro da organizacao. A racionalidade instrumental teria se transformado na fonte de legitimacao do poder de uma nova categoria social: a dos administradores e gerentes profissionais. De acordo com as autoras, o administrador profissional veio a substituir a intuicao dos primeiros administradores do seculo XIX. A enfase passou a ser as analises sistematicas, as rotinas de trabalho, o planejamento da producao e a avaliacao dos custos. A etica masculina, desenvolvida dentro de uma sociedade patriarcal, teria agravado a influencia da racionalidade instrumental ao manter, pela divisao sexual do trabalho, as mulheres no espaco domestico. Com isso, a teoria organizacional teria incorporado apenas a visao masculina de gestao, valorizando aspectos como ambicao, logica, agressividade, competitividade, etc., ao tempo em que desprezou aqueles atributos considerados femininos como a emocao, a intuicao, a sensibilidade, a capacidade de persuasao, etc. Mas e' a propria teoria organizacional que vem desempenhando um papel critico em relacao 'a impropriedade no acompanhamento, na antecipacao e na formulacao de respostas adequadas para o processo de mudancas atualmente em curso. Ela passou a questionar a visao mecanicista do tipo causa-efeito entre ocorrencias no ambito da organizacao, consideradas controlaveis. Nao somente as organizacoes estao sujeitas 'as influencias do ambiente externo, como elas estao, a todo momento, redefinindo e replanejando em funcao de uma serie de outras variaveis nao previstas. Com isso, ela passou a propor formas de organizacao mais flexiveis e ageis para o enfrentamento da instabilidade e incertezas dos tempos atuais. Avancos teoricos importantes referem-se 'a critica da dicotomia entre planejamento, tomada de decisao e execucao. Assim, e' a propria teoria organizacional que poe em xeque a racionalidade, valorizando a complementaridade entre razao e intuicao. Com isso, passa-se a valorizar os estilos femininos de gestao. Nesse sentido, as autoras acreditam que a teoria organizacional - embora voltada para a empresa privada - possa oferecer um instrumental de analise valido para organizacoes nao governamentais, do assim chamado Terceiro Setor. As autoras ressaltam que as ONGs, pelas suas caracteristicas, se diferenciam das organizacoes publicas e privadas pela sua "racionalidade substantiva", dado sua estrutura etico-normativa. Com isso, o desenvolvimento atual da teoria organizacional se aproxima da cultura das ONGs, que valoriza a flexibilidade, a descentralizacao, a simplificacao, a capacidade de inovacao e a rejeicao ao burocratismo. No entanto, 'a medida que as ONGs passam a, por varias razoes, substituir a espontaneidade, a informalidade e a acao bem- intencionada mas desorganizada por praticas ja' utilizadas por organizacoes que se orientam pela racionalidade instrumental, surge uma tensao entre aqueles novos valores que se busca afirmar com aqueles caracteristicos da sua cultura organizacional e ligados 'a racionalidade substantiva. As autoras relacionam e descrevem quatro "dilemas" enfrentados pelas ONGs latinoamericanas quanto ao seu desenvolvimento organizacional: o dilema do financiamento, o dilema da profissionalizacao, o dilema do planejamento continuo, global e estrategico e o dilema da (re)estruturacao administrativa. Por fim, as autoras descrevem o surgimento, no contexto da cooperacao internacional, da estrategia de fazer das organizacoes agentes de mudancas sociais, uma vez que estas foram consideradas capazes de mobilizar recursos, assim como difundir novos valores e atitudes, conhecimentos e tecnologias. Isso pressupunha a transformacao das organizacoes em instituicoes; o desenvolvimento institucional ou a institucionalizacao organizacional seria o cerne desta mudanca, cujos marcos teorico e conceitual teriam surgido nos anos 60. Nesse ponto as autoras trabalham com os conceitos de desenvolvimento organizacional para conceituar o processo de introducao de mudancas organizacionais deliberadas e planejadas nas organizacoes de maneira geral e o de desenvolvimento institucional para caracterizar o processo de institucionalizacao das ONGs, buscando relacionar estes dois conceitos. Dessa forma, o desenvolvimento organizacional seria um instrumento para a promocao do desenvolvimento institucional das ONGs. ** Fim do texto de ax:ong.gestao **
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